SEWBOTS, LOWCOST, FAST FASHION OU MANUFATURA.

Desde que Vasco da Gama descobriu o “caminho das Índias”, o ocidente tem buscado mercadorias no oriente, seja pelo ineditismo ou pelo preço.
A indústria têxtil e de confecções encontrou por lá o preço baixo, lowcost, e por décadas transferiu suas indústrias manufatureiras para lá. Inicialmente, produtos básicos, logo depois a modinha.
Por aqui, ficou só o fast fashion, pois o tempo que decorria entre o desenvolvimento, aprovação, fechamento do negócio, produção e transporte marítimo excediam a volatilidade da moda. Claro, também ficaram as “grifes” ou as marcas que lançam moda e costumam distribuir seus produtos nos shoppings ou lojas próprias, embora essas também produzam parte de suas coleções no oriente.
E o que fica para produzir aqui, onde é fabricado?
Ainda restam poucos núcleos de produção regionais em vários estados brasileiros, onde a média etária das costureiras é de 40 anos. Algumas grandes empresas de material esportivo estabelecidas em regiões incentivadas, criaram seus próprios centros de treinamento e estão admitindo homens como costureiros. É uma tendência, mas que padroniza os produtos com acabamentos simplificados.
Sabidamente, as mulheres são mais detalhistas e habilidosas em atividades manuais, mesmo as que utilizam máquinas, mas, quem consegue atrair jovens mulheres para um trabalho exaustivo, poeirento e em ambiente geralmente quente, para ganhar salário mínimo e ganhar um premio de produtividade que consome o que lhe resta de energia?
Órgãos de fomento na formação de mão-de-obra utilizam técnicas de treinamento desenvolvidas na década de 70 do século passado e entregam costureiras que mal sabem onde e como ligar as máquinas industriais. Preferem treinar operadores para fabricação de equipamentos eletrônicos, muito solicitados pelo mercado e que oferecem melhores salários.
Há mais de 30 anos escrevi um artigo onde previa: “costureira, profissão em extinção”, publicado pela revista Costura Perfeita do Sr. Guiseppe Soma. De lá para cá, a situação só piorou. As costureiras habilidosas e com algum recurso, compraram máquinas e montaram facções, onde em razão de suas habilidades e de uma jornada de trabalho exaustiva, conseguiam aumentar seus rendimentos. Estas, conseguiram atrair suas filhas e algumas jovens vizinhas para aprenderem o ofício e darem sequência ao empreendimento. São as que tocam as facções atuais na grande Fortaleza, região de Maringá, Blumenau e Joinville, Divinópolis etc.
Esses empreendimentos sobreviverão? Alguns, talvez pelo desprendimento e vocação das titulares, outros por estarem num nicho de produto que remunera melhor o serviço.
Trocar um emprego em loja ou quiosque de shopping, com ar condicionado, uniforme bonito, celular disponível para contatar clientes (e seus amigos também) para ganhar a mesma coisa e só ver suas mensagens na hora do almoço ou do café? Nunca. Isso não é vida.
Quando questionamos a sobrevivência das facções, é porque seus tomadores de serviço, pequenas empresas de confecção com rentabilidade baixa ou nula, aviltam os preços que pagam, matando a galinha dos ovos de ouro.
Na outra ponta, estão as grandes redes de lojas aviltando os preços que pagam nas roupas a confeccionistas obrigados a cumprirem uma agenda fiscal e social que corroem seus lucros, e para mantê-los, subcontratam as facções da forma já explicada.
Como será a roupa do futuro?
A julgar pelo desenvolvimento dos “robôs de costura” ou sewbots, algo muito próximo de uma camiseta, t-shirts, e calças jeans, talvez com cores diferentes, os únicos produtos com demanda suficiente para justificarem o desenvolvimento destes postos de trabalho.
A moda básica, continuará a vir do oriente, até que por lá se criem sindicatos capaz de melhorar o salário dos costureiros e aumentarem o preço das roupas.
O fast fashion custará tão caro que passará a categoria de grife.
Os jovens, continuarão a disputarem seu primeiro emprego nas vagas que ofereçam oportunidade de trabalharem em ambiente bonito e agradável, preferencialmente onde possam usar seus celulares.

Costureira, Profissão em extinção?

*Este artigo foi publicado originalmente em 2.013.

Precisa-se de costureira com prática em maquina pespontadeira e fechadeira, diz o cartaz fixado na vitrine da loja de roupas finas. Não, a loja não fica na José Paulino em São Paulo, embora lá se encontrem muitos cartazes como este. O cartaz a que me refiro está fixado na vitrine de uma loja na Avenida da Moda em Passos-MG, mas também poderia ser na Av. Monsenhor Tabosa em Fortaleza-CE, ou em uma das lojas dos shoppings atacadistas de Maringá-PR, Divinópolis-MG ou Brusque-SC, ou ainda em várias outras cidades brasileiras. Por onde tenho passado, o problema é o mesmo: faltam costureiras.

Tenho feito outra constatação assustadora, a faixa etária média, nas fábricas do vestuário que tenho visitado, é superior a 35 anos. Isto significa que estamos numa curva descendente na quantidade de profissionais. Vale ressaltar que em todas as cidades tenho encontrado homens, em pequeno número ainda, trabalhando como costureiro.

Porque isto está ocorrendo? O que está sendo feito para reverter este quadro de falta de costureiras?

Nos Estados Unidos, segundo a revista Exame, a indústria de confecções nos últimos 20 anos, passou de 1,6 milhão para 500 mil trabalhadores. Lá, contudo, o fenômeno tem um nome: China. Aqui, as empresas que conheço de norte a sul do Brasil e que me levaram a levantar este assunto, teriam 15% a mais de costureiras, se houvessem profissionais treinados e dispostos a exercer a profissão.

Faço questão de frisar, DISPOSTOS A EXERCEREM a profissão. Em cidades industrializadas existe uma evasão de profissionais costureiros para outras profissões, principalmente para indústria eletrônica ou mecânica, que pagam salários maiores, mas isto não é de hoje.

Na década de 70, em Joinville-SC, isto já ocorria. Naquele tempo, as costureiras procuravam os chefes para informar que a filha com 15 anos já costurava em máquina doméstica. Estas jovens, muito habilidosas, com dois dias de treinamento em máquinas industriais já eram excelentes costureiras. A indústria mecânica local descobriu então que a mão de obra feminina era mais barata e foi buscar as mulheres mais hábeis, que eram as costureiras.

O sindicato das empresas de confecção então criou um centro de treinamento que conseguiu repor no mercado os profissionais demandados. Este centro de treinamento, mais tarde foi repassado para o SENAI.

No Brasil inteiro, tenho visto várias unidades locais do SENAI serem o único a oferecer curso de costureira, com o mesmo formato do curso aplicado na década de setenta.

Também, no Brasil inteiro, tenho visto as encarregadas e gerentes de confecções, reclamarem da falta de preparo destes aprendizes. As grandes empresas do vestuário montam “escolinhas”, onde complementam o treinamento, mas o custo é muito alto e nem sempre há uma metodologia de ensino que torne o treinamento eficaz. As que despontam como melhores, ao final de três meses são contratadas como iniciantes com um salário inicial menor; são então aliciadas pelos concorrentes menores da cidade, que veem nesta prática a solução barata para seu problema.

Isto tem inflacionado os salários em algumas regiões. Conheço cidades onde uma costureira entre salário e premio de produção leva R$ 1.300,00 por mês, sem contar os adicionais como cesta básica por frequência, auxílio creche, etc.. Esse custo é proibitivo para empresas menores e a saída é lançar mão das facções não legalizadas ou cooperativas, que não tem o custo dos encargos sociais. Não por acaso, as cooperativas e facções estão na mira dos promotores de justiça do trabalho.

Os clientes da indústria do vestuário do Brasil, já sentiram esta tendência de alta nos preços em razão dos altos custos e se voltaram para o oriente. Até fabricantes tradicionais, como a empresa do ano em 2.011, segundo a revista Exame, produz apenas 52% do que vende. O restante é entregue a produtores brasileiros ou importado do oriente.

Voltando ao treinamento, única solução de curto prazo que vejo para suprir esta demanda, precisa ser revista. O sistema de produção mudou. Hoje, quase a totalidade das empresas de confecção que conheço, adotam o sistema de células de produção e medem a produtividade e pagam os prêmios para a equipe. Se antes eram as encarregadas que rejeitavam as costureiras recém-aprovadas em cursos de treinamento, hoje é o próprio grupo de trabalho que rejeita esse novo colega, pois irá comprometer a premiação do grupo.

O treinamento simples, para que o candidato a costureiro aprenda as funções da máquina e a realizar operações básicas se assemelha ao curso de alfabetização de adultos. Permite que o aluno se diga alfabetizado, leia textos simples, escreva uma carta, mas não o capacita a escrever uma redação. E é isto que se está esperando nas fábricas.

Para se ter alunos costureiros bem treinados, precisamos ter instrutores bem treinados. Grande parte dos instrutores, nunca foram funcionários de uma fábrica, principalmente, nunca foram encarregados, monitores, facilitadores ou outro nome que sê a esta função nas empresas. Não sabem o que é célula, balanceamento, cronoanálise.

Para se ter alunos costureiros bem treinados, precisamos rever o conteúdo programático do curso, incluir informação sobre trabalho em grupo, sobre a necessidade de conhecimento em todos os equipamentos, pois uma célula precisa de costureiros polivalentes, com boa produtividade e abertos a inovação. Este conteúdo, também precisa passar por operações específicas da empresa que contratará o candidato, razão pela qual aconselhamos a montagem de cursos dedicados, priorizando os materiais, as máquinas e operações da empresa contratante. É preciso diferenciar o treinamento para “operadores de máquina de costura”, aquelas onde as máquinas são automáticas e só necessitam de alimentação do trabalho, para melhor aproveitar o ciclo da máquina. É preciso dar um treinamento especial, para as máquinas com comando eletrônico, hoje utilizado apenas como máquinas que “cortam a linha” ao final da costura.

Tudo isto, contudo, pode ainda não gerar bons costureiros, se uma rigorosa seleção não for realizada. Temos que identificar pessoas com sensibilidade para serem costureiros. Esta afirmação poderá gerar polêmica, é politicamente incorreta, mas é uma realidade. Nem todos têm aptidão para jogar futebol, praticar atletismo ou qualquer outro esporte. Na profissão também. Temos vários  testes de aptidão de adolescentes para ajudá-los a escolher o curso universitário ideal. Para costureiro também já existem testes que auxiliam na seleção dos mais aptos a receberem o treinamento. Estas pessoas selecionadas precisarão estar motivadas a realizarem o curso, não só no período de estudos, mas precisam ter uma visão dos benefícios que terão quando se tornarem profissionais. O programa “Escola de Fábrica” do governo federal, em 2.005/2006, ajudou a colocar “sangue novo” na profissão. Programas semelhantes precisam estimular o futuro.

Pelo lado das empresas, a primeira coisa a ficar claro, é que nenhum aprendiz, por mais bem treinado que chegue, renderá uma produtividade de 90%. O normal que, após conhecer bem o trabalho, materiais, operações, máquinas, após uma semana, rendam 60%, evoluindo num período que pode chegar a 90 dias, para chegar ao ponto considerado normal, os 90%. Nas médias ou grandes empresas, onde já existe um setor chamado de “RH”, ainda há falta de políticas para retenção de talentos operacionais, política salarial clara, plano de carreira, PLR, ações internas que estimulem a socialização, benefícios estendidos aos dependentes como creches, etc..

Os economistas afirmam que a economia brasileira dobrará de tamanho nos próximos 4 anos. Que o consumo interno nos levará a isto. Significa que as empresas precisarão dobrar seu tamanho neste período. Precisamos iniciar já a reformulação do treinamento das futuras costureiras e costureiros, ou quem se beneficiará deste crescimento, serão as indústrias do vestuário chinês.

Já Planejou 2.016

No início deste ano de 2.015, lançamos um artigo falando das dificuldades que o setor de confecções enfrentaria neste ano, pois o crescimento da economia brasileira seria de apenas 5%. Pois bem, erraram os prognósticos. Encolhemos quase 3%, isso driblou um grande vilão de 2.015, a falta de energia elétrica, que mandou aumentos insuportáveis em suas taxas.
Em conversas com empresários do setor e alguns clientes, este foi o pior ano de que recordam. Houve quem perdeu até 30% nas vendas, em comparação com 2.014 que já tinha sido ruim. Dívidas estão se acumulando.
Neste cenário dois de nossos clientes estão satisfeitos. Um deles teve crescimento de 0,08% ou praticamente manteve-se igual ao ano anterior. Outro teve pequeno crescimento de 2,0 %. Como estas empresas conseguiram isto? São muito pequenas onde qualquer ação dá excelente resultado? Tem um produto diferenciado de grande aceitação? Não. São empresas médias com produtos comuns de moda, faturando entre 20 e 50 milhões no ano. A diferença, é que eles trabalharam muito em estratégia.
No final de 2.014, quando todas as ações levaram a um crescimento pífio, perceberam que tinham que traçar novas estratégias para 2.015. Vários planos foram traçados, desde consulta a clientes até ações internas com funcionários, melhorando a produtividade e evitando demissões. Na área de produto, pesquisas com materiais de melhor custo, reavaliação dos processos com o mesmo objetivo e oferta de uma nova linha de produtos, com a mesma marca, porém, com preços mais atrativos. Aliado a isto uma nova força comercial foi colocada em campo, desbravando novos mercados e agindo de forma agressiva nos mercados consolidados.
O resultado, foi um crescimento de volume vendido próximo a 10% e crescimento financeiro entre 3 e 5%. Com as perdas normais de processo, o resultado final previsto para o DRE é o já colocado.
Análise de cenários, pesquisa de mercado, planos de ação, planejamento, acompanhamento. Foram estas as ações que levaram ao resultado.
Sua empresa também pode reverter ou melhorar acentuadamente o resultado para o ano de 2.016. Vamos dar um passo a passo:
1. Avalie detalhadamente o que ocorreu com as vendas em 2.015. Os clientes reduziram a quantidade comprada? Tiveram dificuldades com pagamentos? Seus representantes cobrem todos os mercados possíveis para seu produto? Quantos clientes novos foram abertos? Como é a ação de acompanhamento do seu setor comercial.
2. Avalie seu setor de desenvolvimento de produto. Quanto custa cada produto lançado? Quantos produtos lançados, sequer pagam o custo do desenvolvimento? Sua coleção poderia ter menos produtos e com melhor desempenho? O custo do desenvolvimento pode diminuir? O mostruário foi entregue na data marcada aos representantes?
3. Avalie seu setor de produção. As entregas foram feitas em dia na coleção atual e na anterior? A qualidade foi satisfatória? Os fornecedores mantiveram preços e garantiram entregas? Seus funcionários deram a produtividade esperada?
4. Avalie também o desempenho de seu setor financeiro. As metas estipuladas para vendas cobrem o custo operacional? Há rigidez no acompanhamento e controle do GGF (gastos gerais de fabricação)? Há um orçamento geral e controle orçamentário? A análise de crédito tem coibido a inadimplência?
Estas são ações básicas de administração que devem ser aplicadas em sua empresa. Das respostas a estas perguntas, deverá nascer um plano de ação para buscar o resultado.
Muito do que ocorre na economia brasileira, é fruto da inércia administrativa. Os boatos e verdades sobre a economia, fazem o empresário acreditar no pior e nada fazer para melhorar. Empreendedor é o que analisa e agride o mercado. Sua empresa chegou onde está por suas ações empreendedoras e isso não pode parar agora, quando uma situação adversa se avizinha.
Faça um relatório respondendo a todas as perguntas acima e envie para nosso e-mail, sjconsultores@sjconsultores.com.br, que responderemos com sugestões de ações a serem implantadas, no planejamento de ações para 2.016.