A Velocidade dos Lançamentos de Moda

A telenovela “Avenida Brasil”, estreou na segunda-feira 26/03/2012. No sábado 07/04/2012, exatos 12 dias depois, uma loja do Saara, o maior shopping a céu aberto da América Latina, exibia três looks da personagem Suelen, interpretada na novela por Ísis Valverde.

Em doze dias, conseguiram: copiar, modelar, buscar materiais similares e baratos, cortar, costurar e expor na loja esses looks, naturalmente com grade de tamanhos e uma quantidade mínima para atender a clientela que circula naquela feira. Naquela época, passei a usar esse exemplo de velocidade no lançamento, em palestras de consultorias em empresas clientes, confrontando com os seis a nove meses que um lançamento consumia para ser criado.

Essa agilidade, os clientes de confecção estão cobrando no atual modelo de consumo pós pandemia, principalmente nas lojas virtuais.

Sempre pregamos a “Engenharia Simultânea”, quando as áreas de criação, desenvolvimento e custos, trabalham como única equipe, eliminando a estática entre os departamentos e, com essa sinergia, reduzir o tempo total.

Conseguimos sensibilizar equipes em algumas empresas onde a gerência do estilo era uma das sócias da companhia, obtivemos resultados inicialmente tímidos, mas nas coleções subsequentes chegaram a 50% de redução no tempo. Em outras, a área de estilo não conseguiu acompanhar, pois sentia-se pressionada na hora de criar e precisava ajustar os protótipos a medida que iam sendo montados, ou seja, mudavam o projeto inicial por várias vezes, retornando para modelar, cortar ou substituir partes, materiais, etc.

Mesmo no primeiro caso, esse modelo não cabe mais e já há algum tempo o mercado também mudou a quantidade de modelos lançados e aumentando a quantidade de lançamentos.

O e-commerce ou lojas virtuais exigem lançamentos semanais ligados a moda do momento, o que também exige rapidez na criação e desenvolvimento. A engenharia simultânea é primordial aqui, onde precisa incluir mais uma equipe: marketing. Essa nova equipe será responsável por providenciar o material de apoio visual aos produtos, pois o lançamento também é virtual.

Os componentes dessa equipe precisam assimilar um novo comportamento: O Comprometimento. Egos devem ser desinflados, conhecimentos compartilhados, soluções encontradas visando o resultado da equipe e não buscar holofotes individuais.

Mas o mercado virtual faz uma outra exigência: entrega rápida.

A demora na entrega passa por uma variante que a empresa não domina, quando está fora de sua área física. O transporte. Então precisa estreitar o tempo entre o pedido e o embarque, variante essa totalmente gerenciada por ela. Isso em outros tempos era resolvido com estoque de produtos acabados. Agora proibitivo pela razão tradicional, o custo de armazenar, agregado a outro sazonal pandemia, falta de matéria prima.

Temos que chamar aqui o pessoal de produção, planejamento, compras. Mas não adianta entregar a eles um lançamento pronto. Eles precisam participar também do desenvolvimento, para que possam providenciar as necessidades futuras, sejam de materiais ou recursos.

Essa equipe também será agregada àquela da engenharia simultânea. Ela tem muito a colaborar, mostrando desde o estoque ocioso de materiais até a dificuldade para reposição em alguns fornecedores (estes também negociados para participarem de desenvolvimentos) principalmente os prestadores de serviço. Também os recursos internos ou externos para produzir devem ser cuidadosamente “dosados” e o PPCP sabe bem o que isso significa..

Assim, a equipe de criação monta coordenados que utilizem materiais disponíveis ou de fácil aquisição, custando valor adequado ao público alvo. Marketing ainda indicará um orçamento de vendas, com a expectativa de venda de cada modelo, para que o PCP e compras possam fazer um estoque básico de materiais ou fazer reserva com fornecedores, além de provisionar os recursos de produção.

Agora vamos quebrar um paradigma. O pessoal de fábrica sempre foi orientado para produzir quantidades grandes para obter ganhos de escala. Temos que mudar isso, visando o atendimento do cliente. Alguém no mundo da confecção citou um número cabalístico: Deve-se sempre produzir 300 peças ou então a empresa perde dinheiro. Vi empresas quebrarem por aplicarem este ensinamento, e ficarem com os estoques abarrotados de produtos sem venda.

Se os pedidos chegam pela internet diariamente, podemos fazer o fechamento diariamente e montar uma ordem de fabricação apenas com ajustes nos tamanhos para melhorar o aproveitamento dos tecidos, mesmo assim com criteriosa análise. Assim, o lote de produção fica pronto em dois ou três dias e pode ser despachado para o transportador e o cliente receberá em tempo record.

Assim, as empresas também poderão, em tempo record, colocar novidades na casa do cliente.

Locomotiva em Movimento

É inequívoco que a indústria automobilística é a locomotiva da economia brasileira. E ela está se movendo num movimento “retilíneo uniforme”. Os dados adiante, demonstram a evolução dos licenciamentos no primeiro quadrimestre do ano, comparando com o mesmo período do ano passado, mostrando um crescimento de 20% no acumulado.

JAN FEV MAR ABR
2.018 154.303 133.063 176.364 184.677
2.017 127.106 117.500 164.203 134.570

 

Fonte: Denatran

A cadeia de produção automobilística é vasta e os salários dos metalúrgicos estão entre os maiores do país. Por certo, o consumo promovido por esta classe de trabalhadores fomentará um circulo virtuoso com efeito dominó ao contrário, elevando a economia como um todo. A que se deve esse crescimento? Certamente a um mix de ações em desenvolvimento de produtos e marketing, apoiados pelo fomento financeiro com ampla oferta de crédito. Mas não iremos estudar a indústria automobilística, e sim, os efeitos deste crescimento em nossa economia.

O segmento Têxtil e de Confecções vem amargando uma estagnação desde 2.015; Parcela significativa de médias e pequenas empresas, investiram tudo que dispunham no desenvolvimento de novas coleções e em formas sutis de comercialização, mas os lojistas reticentes, reduziram volumes de compras, pois nosso inverno insiste em não se apresentar, mesmo assim, os confeccionistas estão na reta final de entregas e na apresentação da coleção de verão.

Qual a estratégia de comercialização dessa nova coleção? E qual o planejamento interno desenvolvido para dar suporte a esta comercialização?

O histórico de nossas empresas, ou de parte significativa delas, é de que se coloca uma coleção na praça e fica-se na torcida para que tudo dê certo e as vendas aconteçam.

Voltemos ao início de nosso relato. É assim que age a indústria automobilística? Com certeza, não.

Tudo, desde a pesquisa para lançamento de novos produtos é meticulosamente planejada, bem diferente de nossas estilistas e diretoras de criação, que quando encontram um tecido importado de bom apelo, carregam a quantidade de modelos que o utilizam e quando a fábrica vai as compras, o estoque do importador acabou e a venda, tão difícil, fica sem entrega.

Olhem para dentro de suas empresas. Com algumas variações, o cenário é semelhante.

Nossa indústria de confecção precisa aprender a planejar. O sucesso de uma coleção, começa de quatro a seis meses antes do primeiro croqui ser desenhado. O departamento financeiro precisa definir o volume financeiro que a empresa necessita para fazer frente as suas despesas, investimentos futuros e o lucro. Com base na informação financeira, o setor comercial traça sua estratégia e informa ao desenvolvimento o mix de produtos que precisa, o target de preços e o volume que venderá. A partir da informação comercial, o departamento industrial fara seu planejamento, definirá os volumes e os recursos necessários para cumprir os prazos de entrega; Já é possível então o financeiro planejar agora o fluxo de caixa para o capital de giro e apresentar aos acionistas os momentos de sufoco financeiro ou da necessidade de aporte de capital.

Pronto, a coleção pode ser criada, atendendo as especificações comerciais, mas, agora começa o planejamento de marketing, definindo os produtos que serão trabalhados, os meios a serem utilizados, as campanhas, os catálogos, enfim, tudo que se faz necessário.

Enquanto a coleção é gestada, o comercial afina o discurso com os representantes, o industrial ajusta o treinamento das equipes de produção, interna e ou externa, o financeiro orienta compras quanto a prazos e valores orçados para comprar.

A coleção ficou pronta. Convenção, muita festa, pompa e pronto. Pronto? Agora começa outro trabalho e muito importante. O acompanhamento do plano. Marcação cerrada e correção imediata dos desvios. Hora de medir a produtividade, de vendas, de fabricação, de faturamento, de cobrança. Vender, entregar, receber. Esse é o ciclo.

Os sinais de aquecimento da economia brasileira em 2.018, estão presentes. Sua empresa de confecção está preparada para aproveitar com sucesso esse momento?