Análise de Conjuntura do Segmento Textil e de Confecções, pós Corona Vírus.

PESQUISA ABIT

A ABIT realizou em novembro 2.019 uma pesquisa entre 188 de seus associados, sendo que 73% deles estão nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais, cujos resultados comentamos adiante.

Temos a considerar que todas as respostas e expectativas futuras, foram dadas num ambiente antes da deflagração da pandemia da corona vírus. Do total, 70% eram de empresas têxteis e 30% de confecção.

No mês de novembro de 2.019, a produção nestas empresas, em média, foi 51% maior que em novembro de 2.018. Igual índice, 51% maior, foram as vendas no mesmo período. Já o nível de emprego foi 31% menor que no período anterior, o que elevou o índice de produtividade para 45% pois ao longo de 2.019 os investimentos foram 40%maior que no ano anterior. O nível dos estoques ao fim de novembro de 2.019 eram 51% menor que em 2,018.

Olhando o desempenho ao longo do ano de 2.019, a expectativa de vendas para os meses de janeiro e fevereiro de 2.020, era de 59% acima de novembro 2.018. Número semelhante, 57% era a expectativa de start para a produção de janeiro e fevereiro de 2.020. Nesse mesmo período, para fazer frente ao crescimento da produção, pensava-se em contratar mais 22% em mão-de-obra.

Os dados acima, por si podem orientar suas conclusões, mas iremos comentar mais adiante, quando os consolidarmos com os das pesquisas que realizamos diretamente, com três segmentos específicos: 18 empresários da área têxtil, produtores de fios e de tecidos de algodão; 21 empresários do segmento de confecção, em todas as áreas de produto (bebê, infantil, moda, jeans, uniformes, privat label) e com 44 lojistas de roupa infantil, na capital e no estado de São Paulo.

PESQUISA SÃO JUDAS CONSULTORES

Nossa pesquisa não tem um cunho científico, pois a realizamos com os contatos que auferimos ao longo de nossa atuação como consultor, sem considerar uma estratificação econômica e sociológica, mas reflete ações e comportamentos reais, neste difícil momento mundial.

TÊXTIL, FIOS E TECIDOS DE ALGODÃO

Os fabricantes de fios de algodão tiveram seu último faturamento em fevereiro. 100% das empresas estão paradas, sem produção, pois os pedidos em carteira foram suspensos. Estão com estoque de MP para dois meses em média e de produtos acabados para um mês. As vendas em janeiro e fevereiro vinham com bom desempenho, mas tudo parou no início de março e estão sem expectativas para o futuro. Os produtores de tecido de algodão, tanto em malharia como tecido plano tiveram janeiro e fevereiro normais, historicamente com vendas menores. As vendas programadas para março e abril estavam dentro da expectativa, com 5% de acréscimo frente a igual período do ano anterior, porém, 80% das entregas de março e até o momento 60% das entregas de abril foram suspensas. Estão mantendo contato com clientes para saber se irão receber os 40% restantes. A linha de jeans foi a que menos sofreu. Todos concordam que as metas para este ano não serão atingidas e, se perdurar a situação de isolamento social, o segmento não conseguirá sequer atingir o ponto de equilíbrio, pois, certamente terá que rever e reduzir custos internos para adequar os preços ao momento da recuperação.

SEGMENTO DE CONFECÇÃO

As empresas consultadas têm uma variação grande em produtos e as respostas e posicionamento são díspares. Vamos apresentar respostas chave de forma segmentada.

O grupo de empresas dedicadas a moda sempre prefere manter o sigilo sobre suas ações estratégicas, razão pela qual obtivemos apenas respostas evasivas, das que responderam. Não foi possível entender como estão em relação ao momento, vendas, produção, entregas. Aparentemente estão agindo normalmente no desenvolvimento de suas coleções e mantendo seus segmentos e o nível de seus produtos, entendendo que o nível de preços se manterá pois os consumidores recuperarão seu padrão financeiro após a crise. Ressentem-se, porém, com a falta de MP importada. As poucas importadoras que estão trabalhando não têm novidades e nem sabem dizer o que e quando chegará novas importações. Outra incógnita é de como e quando farão o lançamento de suas coleções, pois notícias sobre a duração da crise não são animadoras. O segmento de private label teve negociação direta com os clientes, concluindo os pedidos em andamento e parando por completo aguardando instruções para voltar as entregas e colocar em produção os pedidos suspensos. Preocupam-se, pois a maior parte destes pedidos são de produtos de inverno e a MP já está na fábrica e em alguns casos, até pagas. Seus clientes mantêm-se em silêncio e o futuro é incerto. As empresas que se dedicam a fabricação de uniformes, em várias partes do Brasil, mudaram seu perfil de produto para a área de saúde, fazendo os aventais, capotes e máscaras, principalmente, para a grande demanda. Ocorre que a grande maioria deste trabalho é doação à sociedade local. Apenas uma das consultadas incluiu os produtos em seu portfólio, mas os preços praticados pagam apenas os custos de produção. Também tiveram pedidos cancelados ou suspensos, por clientes ligados a grandes eventos de marketing ou esportivos. Estes acreditam que na retomada a demanda será superior a sua capacidade.

Todos, independente do segmento de produto afirmam que na retomada o mercado não continuará como era. As mudanças no modelo de negócios atropelarão as operações normais e pressionarão os preços para baixo.

LOJAS DE ROUPA INFANTIL

Este segmento está localizado 60% na cidade ou estado de São Paulo e o restante espalhados pelo Brasil, pois a maioria deles atuam tanto com lojas físicas como virtuais, trazendo uma boa estratificação social. Os que atuam apenas com lojas físicas, tiveram sua última venda em fevereiro, pois suas lojas estão fechadas. As vendas virtuais caíram 70% em média. Também caíram as visitas em seus sites e mais ainda a taxa de conversão de visitas em vendas. Os que interagem com clientes, relatam uma maior procura por preços e promoções, além de solicitarem aumento da quantidade de parcelas. Ninguém, porém, abre mão da qualidade. No interior, as lojas são ecléticas e além de roupas finas oferecem linhas básicas para uso no cotidiano, nicho que aumentou muito nas vendas virtuais, mas, mesmo nestes produtos há busca por novidades e qualidade.

CONCLUSÕES

O momento é crucial para toda a sociedade brasileira e nosso segmento econômico está nele inserido. Embora não tenhamos mencionado na apresentação segmentada, há uma grande preocupação na manutenção da mão-de-obra das empresas, pois são todos especializados, treinados e já tiveram investimento das empresas sobre eles, além claro, do aspecto social.

As empresas estão buscando alternativas para equilibrarem o lado financeiro e a manutenção dos empregos, pois estão todos sem faturar e assim, teriam que lançar mão de suas reservas (quando há). A ajuda oferecida pelo governo as pequenas e médias empresas será uma atenuante, mas, e as grandes? Uma fiação ou uma tecelagem estão neste porte e passam pelos mesmos problemas de caixa das pequenas.

Isso leva a todos preocuparem-se com o futuro e sabem que precisará ser diferente. Os sobreviventes sofrerão uma concorrência acirrada por seus pares e uma pressão de clientes por preços.

Há ainda muito espaço nas empresas para um enxugamento nos processos, sejam administrativos ou produtivos, melhorando grandemente a produtividade, reduzindo custos que devem servir para ofertar preços melhores aos clientes.

Desde a fabricação de fios, passando pelos tecidos e acabamentos e chegando as confecções o empreendedor terá que rever seu modelo de negócio e seu plano de produto. A ruptura gerada por essa crise acelerará a forma de criação, produção e comercialização que as empresas passarão a adotar. A flexibilidade passa a ser o comando das ações. O trabalho planejado, as metas fixadas, os controles de resultado, mas, principalmente, a entrega do bem ou serviço da forma e no prazo prometido. Prazo esse que não poderá mais ser de 120 dias para desenvolver, 60 para vender e 30/45 dias para entregar.

O mercado lojista, seja físico ou virtual, representa a vontade do consumidor final que virá com parcas reservas financeiras em busca de produtos diferenciados, inovadores, práticos e harmonizados com a moda e com o meio ambiente, porém, dentro de um preço acessível. Assim, os criadores terão que buscar novos materiais que lhes permitam desenvolver produtos inovadores, sem agredir o meio ambiente durante o processo de fabricação, que possam ser reciclados e reaproveitados para não agredir o meio ambiente também após seu descarte, tudo isso, a um preço acessível.

A forma de apresentar, o tempo para entregar, como receber pela venda, tudo precisa ser reavaliado, pois os processos terão que ser enxutos para custar menos. Nas fábricas de confecção é comum vermos empresas com poucas pessoas produzindo, porque terceirizam seus processos que demoram na entrega e ainda retornam para retrabalhar não conformidades. Controles mirabolantes utilizam pessoas que nada agregam ao produto, mas que custam.

Este momento de parada nas atividades e negócios, pode ser utilizado em pensar e planejar as mudanças que o futuro espera. Planejar. Desde o que será feito, passando pelo como fazer, por quem fará, quando deverá estar pronto, quanto irá custar o projeto até ser colocado em prática, como a empresa financiará esse investimento, como fará a distribuição, quanto terá que vender, onde irá produzir e como tratará os clientes no pós venda.

Isso, contudo, demanda tempo e as ações são emergenciais. È preciso dividir tudo em duas etapas. A primeira, emergencial, a segunda, um projeto futuro.

A etapa emergencial, deve abranger o momento atual, sem trabalho, com ociosidade, com inadimplência alta. O governo apresentou alternativas para não demitir. Aproveite. Reduza a jornada de trabalho e sua parte de salários, busque uma alternativa de geração de renda para pagar a parte dos salários que lhes cabe. Parcela grande de empresas, mudaram suas linhas de produção para fabricar equipamento de proteção individual para profissionais de saúde. Esta é uma saída. Há outras. Encontre a sua.

O projeto futuro, segunda etapa, já está delineado em parágrafos anteriores.

Quem chegar primeiro a fonte, tomará água fresca e limpa.